Caros irmãos e irmãs, desta vez vou falar em francês. Perdoem-me se ainda não aprendi a bela língua croata. Reunimo-nos à volta do altar no quinto domingo da Quaresma. Ainda faltam duas semanas para a Páscoa. Dentro de uma semana, será já o Domingo de Ramos. Dentro de quinze dias, no final da Semana Santa, estaremos a celebrar a maior festa cristã. Será o Domingo da Ressurreição. As leituras bíblicas de hoje são todas sobre a ressurreição. Mostram-nos três perspectivas, três visões da ressurreição.
A primeira visão, a primeira perspetiva é histórica. Nós sabemos ż que Jesus Cristo, o Filho de Deus e o Filho do Reino, viveu Sua vida mortal na Palestina, na Terra Santa. Sabemos que Ele foi anunciado, predito por profetas como Ezequiel, que lemos hoje. Ele cita as palavras de Deus: “Eis que abro os vossos túmulos e vos faço sair das vossas sepulturas” e repete: “Abrirei as vossas sepulturas e tirar-vos-ei das vossas sepulturas”. Isto é profecia: ele já vê a vinda do Messias. Sabemos que Jesus morreu e que há-de ressuscitar. E este é o fundamento da nossa fé. Sem este acontecimento – a ressurreição – a nossa fé seria vã.
O segundo olhar é litúrgico, é o caminho da Quaresma. Rezámos durante quarenta dias e continuaremos a rezar. Jejuámos e continuaremos a jejuar. Tornámo-nos magníficos porque demos esmola e continuaremos a fazê-lo. E esta espiritualidade quaresmal é bem conhecida por vós aqui.
Assim, este caminho litúrgico, que é um caminho de preparação, aponta ao mesmo tempo para uma terceira visão, uma terceira perspetiva. Esta é a perspetiva da nossa żlife. A vida de cada um de nós. Vivemos para a ressurreição. Caminhamos em direção à ressurreição. Passamos pela morte para sermos ressuscitados. O objetivo final da nossa vida terrena é a ressurreição. Nesta caminhada, temos de nos levantar dos mortos, antecipando esta perspetiva última. E esta ressurreição parcial é a nossa conversão. Jesus diz e repete: há a morte do corpo, mas fala também da morte da alma, e a morte da alma é uma ameaça muito mais perigosa para nós, porque podemos morrer para sempre, para a eternidade. Por isso, sempre que nos convertemos, voltamo-nos para Deus, que é a fonte da vida, a fonte da vida eterna, e também para o amor, porque Deus é amor. É o amor que nos dá ż vida. É o amor que nos dá a paz interior e é o amor que nos dá a alegria de viver.
Há, porém, duas condições. A primeira condição é a fé. Antes de realizar um milagre, Jesus exige fé. “Vocês acreditam que eles podem fazer isso?”, perguntou ele. “Sim, Senhor, eu creio! Acredita firmemente!” E depois esta fé abre o nosso coração à conversão, esta abertura do coração acontece através do sacramento da misericórdia, que é a confissão sacramental, o nosso coração é aberto, purificado e cheio do Espírito Santo e de toda a Santíssima Trindade. Cristo confirma-nos isto quando diz no Apocalipse que está à porta dos nossos corações e nos une. E se a Santíssima Trindade habita em nós, tornamo-nos o templo de Deus, o santuário de Deus.
Agora volto à perspetiva histórica. Nos dias que virão, leremos no Evangelho sobre como a rede lançada pelos inimigos de Cristo está a ficar cada vez mais apertada. Jesus está cada vez mais ameaçado. E Ele sabe-o. Sabe-o melhor do que os seus apóstolos e discípulos. Mas aqui está alguém que caminha com Ele, que caminha com Ele neste caminho da Mãe. É a sua Mãe, a Santíssima Virgem Maria. Ela está perto, sofre com ele, sente-se desamparada. São João Paulo II falou da sua fé, que é tão difícil. Chamamos-lhe muitas vezes Nossa Senhora das Sete Dores, Nossa Senhora das Dores. A sua vida foi marcada pelo sofrimento e pela dor. Agora, também o seu sofrimento, a sua mãe, cresce juntamente com o sofrimento de Cristo, até ao ponto da Cruz. Quando fazemos a Via Sacra, na quarta estação, vemos Maria encontrar-se com o seu Filho. E o Evangelho diz-nos que ela foi testemunha ocular da sua terrível morte na Cruz. Ela abraçou com os seus braços o corpo morto do seu Filho. Além disso, segundo a tradição cristã, ela foi a primeira a encontrar Jesus ressuscitado, antes mesmo de Maria Madalena.
Então, na perspetiva da vida de cada um de nós, na perspetiva da ressurreição – Ela está aqui! Ela acompanha-nos, ela segue-nos, ela participa nos nossos sofrimentos e no nosso florescimento, se o vivermos na perspetiva de Deus. Ela procura como nos salvar, como nos levar à conversão. Devemos sentir a Sua presença espiritual.
Nós a chamamos, especialmente aqui, de Rainha da Paz. Na Ladainha de Loreto, temos duas invocações em que a chamamos de Rainha. A invocação da Rainha da Paz está quase no fim da ladainha. Maria é a Rainha. Quando recitamos os Mistérios Gloriosos do Rosário, consideramos também a sua coroação como Rainha do Céu e da Terra. Assim, ela partilha os atributos do reinado do seu Filho como Criador do Céu e da Terra. O seu reinado é também universal. Ela está em todo o lado e a sua adoração é permitida em todo o lado. Por isso, somos-lhe gratos e agradecemos-lhe a sua presença constante junto de cada um de nós.
A Rainha da Paz – este é o fruto da conversão. Ela traz a paz aos nossos corações e através dela tornamo-nos pessoas de paz na nossa família, na nossa sociedade e no nosso país. A paz está ameaçada em todo o mundo. O Santo Padre Francisco diz que a Terceira Guerra Mundial já está em curso no “pântano”. E a pior de todas as guerras são as guerras civis que se travam entre habitantes de um mesmo país.
Eu, queridos irmãos e irmãs, żvivi durante 21 anos no Ruanda, em África. Em 1982, a Santíssima Virgem Maria apareceu lá. Ela tinha previsto o genocídio no Ruanda quase dez anos antes. Na altura, ninguém compreendeu a mensagem. Este genocídio causou um milhão de mortes em três meses. As aparições da Virgem Maria são atualmente reconhecidas. Ela apresentou-se como a Mãe do Verbo, a Mãe do Verbo Eterno, na perspetiva da ausência de paz.
Por isso, este culto, que aqui é tão intenso, é extremamente importante e necessário para o mundo inteiro.
Rezemos pela paz, pois atualmente as forças destrutivas são enormes. O comércio de armas não pára de crescer. As pessoas são despedaçadas. As famílias estão divididas, as sociedades estão divididas. Precisamos de uma intervenção do Céu. E a presença de Nossa Senhora é uma dessas intervenções. É uma iniciativa de Deus. Por isso, quero encorajar-vos e fortalecer-vos, como mensageiro especial do Santo Padre. Promovam a paz em todo o mundo através da conversão do coração.
O maior milagre de Medjugorje são as confissões aqui realizadas. Um sacramento de reconciliação, perdão e misericórdia. Este é o sacramento da ressurreição. Agradeço a todos os padres que vêm aqui para ouvir confissões, como eu fiz hoje, quando havia cerca de cinqüenta padres que ofereceram este serviço aos fiéis. Durante muitos anos trabalhei nos países ocidentais, na Bélgica, em França, e posso dizer-vos que a confissão desapareceu. A confissão individual já não existe, exceto em lugares isolados. O mundo está, portanto, a secar, o coração das pessoas fecha-se, o mal aumenta, os conflitos multiplicam-se. Sejamos, pois, apóstolos da Boa Nova da conversão e da paz no mundo.
Aqui ouvi palavras, que dizem : “Os incrédulos são aqueles que ainda não sentiram o amor de Deus”. Pois aquele que foi tocado pelo amor de Deus, pela sua misericórdia, não pode resistir a ele. É assim que testemunhamos o que salva vidas. Somos Å testemunhas daquilo que salva o mundo.
Os frades franciscanos disseram-me, żVêm aqui peregrinos de oitenta países de todo o mundo. Isso significa que esse chamado pode chegar até os confins da terra, como disse Cristo quando enviou seus apóstolos: “Ide por todo o mundo”. Vós, portanto, sois testemunhas do amor de Cristo, do amor de sua Mãe e do amor da Igreja.
Que Deus vos fortaleça e vos abençoe. Amém. (foto)